Publicado em: 7 de Fevereiro, 2025
Arranca ranca este fim de semana em Penalva do Castelo o ciclo de feiras na região demarcada do Queijo Serra da Estrela. O largo da Câmara Municipal vai receber mais de 60 expositores, num evento que visa promover o concelho de Penalva do Castelo e a sua trilogia de excelência, com destaque para o queijo produzido no concelho.
Em conversa com a Gazeta Rural, o presidente da Câmara destaca a evolução do evento nos últimos anos. “Tenho a noção de que Penalva do Castelo foi conhecida, a nível nacional e internacional, graças à Feira do Queijo e pela cobertura televisiva, que a levou aos quatro cantos do mundo”, frisou Francisco Carvalho. O autarca, que faz a última Feira do Pastor e do Queijo enquanto presidente de Câmara, diz que sai “com a satisfação de a ter colocado num patamar muito acima do que, se calhar, jamais os penalvenses imaginariam”.
Gazeta Rural (GR): A edição 2025 será a sua última Feira do Queijo enquanto presidente de Câmara. O quão especial será para si?
Francisco Carvalho (FC): Permita-me uma breve introdução. A Feira do Queijo foi uma até 2013 e outra a partir de 2014. Saio com a satisfação de a ter colocado num patamar muito acima do que, se calhar, jamais os penalvenses imaginariam. Quando chegámos à Câmara, em 2013, a Feira do Queijo era somente realizada à sexta-feira, durante a manhã, e não tinha mais que 300 a 400 pessoas. A feira era um convívio de amigos do anterior Executivo. Vinha sempre o mesmo Secretário de Estado, a presidir à abertura da feira, e a Diretora Regional da Agricultura.
Ainda na oposição, transmiti a minha opinião ao então presidente da Câmara, salientando a necessidade de alterar o figurino do evento, que estava ultrapassado e desgastado. Nessa altura, havia mais produtores de queijo, mas não havia outro tipo de expositores. Hoje a Feira do Queijo é três em um. Promovemos a nossa trilogia da excelência, – o queijo Serra da Estrela, a Maçã Bravo de Esmolfe e o Vinho do Dão – temos animação e um canal televisivo. Este ano será a SIC, com o Domingão. Mas tenho a satisfação de ter trazido à feira os três canais, na primeira feira a RTP 1, depois a TVI e, o ano passado, a SIC, que este ano repete. E posso dizer que os três canais disputaram este evento, pois todos queriam transmitir a Feira do Queijo de Penalva do Castelo. Posso dizer que nos demos ao luxo de escolher o canal que queríamos.

GR: Como será a feira deste ano?
FC: Vamos ter mais de 60 expositores, de queijo, vinhos, fumeiro e outros produtos locais. Tive recentemente uma reunião com o movimento associativo e pedi-lhes que aderissem em força ao evento. Não está em causa a promoção do nosso queijo, porque o produto é tão bom que está praticamente vendido antes de chegar à feira. Porém, nós queremos promover o concelho. Tenho a noção exata de que Penalva do Castelo foi conhecida a nível nacional e internacional graças à Feira do Queijo e pela cobertura televisiva, que a levou aos quatro cantos do mundo. Hoje, não tenho dúvidas de que o concelho está estruturado para aguentar este evento, que tem o seu custo, num investimento que visa promover o concelho.
Deixou de ser um evento de amigos, mas uma forma de promover o concelho, os nossos produtos locais, neste caso o queijo, e as nossas gentes. Fazemos uma prova de queijo, para promover o produto, e depois quem quiser almoçar em Penalva do Castelo ajuda a restauração local, porque é também para eles que fazemos a feira.
Em resumo, diria que a feira mudou de paradigma completamente. Hoje é um evento que nos orgulha, que nos envaidece e que está à altura de Penalva do Castelo.
GR: O presidente da Ancose referiu, recentemente, a diminuição do efetivo ovino na região demarcada e o menor número de pastores e de produtores de queijo. Qual é a situação no concelho?
FC: Penalva do Castelo não está diferente dos outros concelhos. Esta é uma atividade que exige bastante sacrifício. As ovelhas não têm férias e não dão descansos, pelo que os pastores têm de trabalhar 365 dias por ano.
A Câmara de Penalva do Castelo, – em conjunto com os outros concelhos da região pertencentes à região demarcada do queijo Serra da Estrela, – já fez muito por este setor. Por exemplo, a candidatura do Queijo Serra da Estrela a Património Cultural e Imaterial da Humanidade da Unesco deve ser entregue até final do verão, numa iniciativa com a Estrelacoop, em mais um investimento dos municípios para promover o produto.
Para incentivar os pastores e produtores de queijo a manter os seus rebanhos e a produzir leite, temos um subsídio para o pastoreio e para a produção de queijo, que custa à câmara cerca de 20 mil euros por ano. Este é um apoio que damos, direto, aos pastores e aos produtores de queijo, de forma a que os jovens também se interessem por esta atividade, que dá trabalho, mas é rentável.
Posso dizer que se houver um jovem agricultor que se instale no nosso concelho, para produzir queijo, se calhar, tem um rendimento superior ao de um técnico superior ou de um jovem licenciado que arranje emprego na função pública.
O que pretendemos, com os apoios que damos, mas também com os incentivos à instalação que o Ministério da Agricultura atribui, e que são significativos, estão criadas melhores condições para quem se dedicar a esta atividade, que é rentável. Naturalmente, que sabemos que há menos população no território, os nossos jovens vão para as faculdades e já não regressam, porque a vida no campo é mais difícil, mas o que dizemos é que é possível viver no nosso concelho e com boa qualidade e vida.
GR: Foi crítico de alguns projetos direcionados para este sector, que visavam mais a promoção do que o apoio à produção. Há alguma alteração?
FC: O regulamento do município para apoios ao setor está direcionado para a produção de leite e carne de borrego. Para nós, tanto nos faz que produzam leite para fabrico de queijo ou o vendam a outra queijaria. O subsídio é igual e pagamos em função da produção de leite.
O que se está a verificar, com o encerramento de algumas queijarias artesanais, é que quem se dedica à criação destas espécies autóctones, – ovelha Bordaleira Serra da estrela ou Churra Mondegueira, – vende o leite às queijarias certificadas, que produzem queijo Serra da Estrela DOP. No concelho temos duas queijarias certificadas, de Germil e a Casa da Ínsua, e duas licenciadas na Matela. Qualquer uma delas paga muito bem o leite daquelas espécies autóctones.
Portanto, quem tiver um pequeno rebanho, o leite tem muita procura. Se não quiser produzir queijo pode vendê-lo a estas queijarias e tem uma fonte de rendimento assegurada.