Sport Viseu Benfica assinala centenário com colóquio “Que Futebol em 2023?”

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Corria o ano de 1924 e Alfredo Rodrigues Gaspar tinha tomado posse como Presidente do Ministério de Portugal há meia dúzia de dias. Durante esse curto mandato de 138 dias, em Viseu zangaram-se alguns compadres, daqueles que já davam uns chutos no couro esférico do football, pois a bola de meia já não era suficientemente dura para uns pés tão habilidosos com a redondinha. No distrito havia 404.864 pessoas, das quais 221.491 eram fêmeas, de acordo com a terminologia da época, e que, diga-se, estariam longe de ligar à bola, pelo que se depreende que a contenda terá começado entre alguns dos 183.273 varões que do distrito fizeram casa.

Rezam as boas línguas de Edmundo de Oliveira – que por acaso até foi um dos varões da contenda – que, na altura, uns tais “Galitos” de varões de Aveiro, na expectativa de se deslocarem até Viseu, decidiram desafiar os melhores da cidade para o desafio do ano.

Bem dito, bem feito, e Edmundo de Oliveira, do Grupo União de Futebol, convidou para os treinos da pelada Abel Leonídio, do Sport Ribeira Viriato, que, com mais meia dúzia de varões dos dois lados, fizeram aquela que terá sido a primeira seleção de Viseu, já que os “Galitos” eram bem maiores do que o nome pareceria indicar. Uns verdadeiros Galos, portanto! As sessões de preparação corriam bem e conta Edmundo de Oliveira que até banho com duche tinham, sendo a bola do Ribeira Viriato e as farpelas do União. O estágio estava perfeito até ao dia em que bateram com o nariz da porta do balneário do União e a bola do Viriato tinha levado um sumiço, sem que o chefe lusitano algo tenha feito para isso. Afinal, as direções de ambos os clubes assim tinham decidido.

Abertas as hostilidades, a que nenhum dos 82 polícias existentes no distrito podia pôr termo, e juntaram-se os craques do agora football sem bola e sem camisolas ali para os lados da Cava de Viriato, pois estavam indignados com a decisão não explicada das direções dos clubes, embora, diga-se especulando, que, segundo o Anuário de 1924 do Instituto Nacional de Estatística, naqueles tempos a estupidez era doença e até havia um varão internado no Manicómio Bombarda de Lisboa com esta maleita. Foi no Café Avenida que o estágio se fez e o craque Alferes António Carlos, também ele agora sem bola e sem camisola, marcou o golo da independência e, como num lançamento em profundidade, chutou a ideia de formar um novo clube. Edmundo de Oliveira defendeu a ideia e devolveu com um nome: Sport Lisboa e Viseu, a filial número 3 do Sport Lisboa e Benfica. Foi a 1 de Agosto de 1924, há 100 anos, quando uma pipa de 500 litros de vinho custava 1344 Escudos e os suplementos energéticos eram retirados dos 113.274 kg de óleo de fígado de bacalhau pescados nas ilhas do Açores, por armações de baleia durante todo esse ano.

Não sabemos se, com isto, os Galitos chegaram a defrontar estes Viriatos, pois estão gastas as páginas dos 27 jornais que existiam em todo o distrito. Ou se terão vindo no único comboio que em 1924 descarrilou na Linha do Vouga, felizmente sem feridos ou mortes a lamentar e carregar nas duas únicas carretas funerárias de mão existentes em tão grande distrito.

O resto da História já muitos saberão: O Sport Lisboa e Viseu deu lugar ao Sport Viseu e Benfica e felizmente hoje há muito mais jornais para relatar tantos e tão ecléticos feitos de um Clube Centenário.

Parabéns pelos 100 anos, Sport Viseu e Benfica! Venham 100.

Texto de Tiago Nascimento